Morte da escrivã Rafaela Drumond nos alerta que saúde mental dos (as) Policiais Civis chegou ao seu limite

No último dia 9 de junho, fomos atingidos pela trágica notícia da morte da policial civil mineira, Rafaela Drumond (31 anos). O caso foi registrado como suicídio depois que o corpo de Rafaela foi encontrado pelos pais dela, no quarto da casa da família, na noite da sexta-feira (9). Após a morte da Policial, o Sindicato dos Escrivães da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindep-MG) declarou que havia recebido informações de que a vítima vinha sofrendo assédio moral, sexual além de pressão com a sobrecarga no trabalho. Na quinta-feira (15), foi divulgado um vídeo em que a escrivã é xingada dentro de uma delegacia em Carandaí (MG). Na imagem, um homem faz ofensas a ela e ironiza a policial, que ameaçava denunciar o caso. “Grava e leva no Ministério Público, na Corregedoria”, diz o homem na imagem. A Polícia Civil de Minas Gerais informou que vai periciar o vídeo.

Infelizmente, a morte da Escrivã Rafaela Drumond não é um caso isolado

O caso da policial mineira choca, mas não é um caso isolado nas polícias brasileiras. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 traz um dado estarrecedor: o suicídio de policiais no Brasil cresceu 55% entre 2020 e 2021, passando de 65 mortes para 101. Pelas notícias colhidas nos meios de imprensa em todo o país, os números de 2022/23 devem ser ainda mais trágicos. Além dos riscos inerentes ao trabalho executado pelos (as) Policiais, as condições de trabalho e a própria estrutura das instituições, têm um papel determinante nesses números trágicos.

Na maioria dos estados do país a realidade é muito grave. Além dos casos de suicídio, já tivemos o caso do policial civil, do Ceará, que matou quatro colegas dentro de uma Delegacia. Está na hora do poder público, a sociedade e a própria categoria se debruçarem de forma séria sobre essa questão. Os estudos e os números são claros, o que precisamos agora é a elaboração e implantação de políticas públicas que ataquem esse problema de frente. A discussão sobre a estrutura organizacional das instituições policiais, a melhora imediata das condições de trabalho e a reposição urgente do efetivo policial, evitando a sobrecarga de trabalho, são apenas os primeiros passos para amenizar essa situação.

O Governo Federal, que assumiu em janeiro com a promessa de melhorar as condições de trabalho dos (as) policiais, precisa promover uma ampla reforma das polícias brasileiras. É necessário que se democratize as estruturas das instituições policiais em todos os seus segmentos, padronizando a sua organização em nível nacional. Essa reestruturação não pode deixar de fora a própria formação dos (as) profissionais nas Academias de Polícia, que precisam ser repensadas levando em conta as profundas transformações acontecidas no mundo do trabalho e na sociedade como um todo.

Porém, nenhuma dessas mudanças terão efeito se os casos de assédio moral dentro das Polícias, não forem encarados de forma séria pelo poder público. Os diversos casos de suicídio na categoria mostram que as denúncias não podem mais ser tratados com desprezo e deboche, como acontece muitas vezes. A certeza de impunidade em relação às denúncias de assédio moral, como mostra o vídeo da escrivã Rafaela Drumond, é um dos principais combustíveis para que essa prática se perpetue nas Polícias brasileiras.

Saúde mental dos (as) Policiais precisa ser tratada de forma séria pelo governo

Outro ponto que precisa ser tratado urgentemente e de forma profunda, é a saúde mental das forças policiais. A própria profissão policial já é um fator de sério risco para a saúde mental desses profissionais. O contato direto com a violência, o risco permanente de morte e a tensão de lidar com a face mais cruel da sociedade, são fatores que abalam de forma severa a saúde mental desses trabalhadores. Se somarmos esses fatores, que são inerentes à profissão, a uma estrutura organizacional extremamente hierarquizada, às péssimas condições de trabalho e às condições salariais insuficientes, teremos a “tempestade perfeita” se formando na saúde mental dos (as) policiais brasileiros.

Além da melhora nas condições de trabalho e a mudança na estrutura de organização das Polícias, é urgente que os governos implementem políticas públicas que atendam a saúde mental dos agentes de segurança. A Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol) tem encaminhado essa pauta junto ao Governo federal. No dia 5 de junho, a convite do deputado estadual Leonel Radde (PT/RS), a entidade participou de duas reuniões, no Ministério da Saúde e no Ministério da Justiça e Segurança Pública, para tratar do tema.

O Presidente da FEIPOL-Sul, Fabio Castro, alerta que a situação é muito grave: “já não se discute mais se acontecerão novos casos como o de Rafaela Drumond, a dúvida agora é quando acontecerá a próxima tragédia. A situação chegou a um ponto insustentável. Os governantes precisam assumir que a nossa categoria está doente e que já passou da hora de ações concretas para garantir a saúde mental dos (as) policiais brasileiros (as). Quando um (a) policial adoece por causa do seu trabalho, é um sinal que toda a sociedade está doente.”, finaliza Fabio Castro.

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